
O Poder (e a Desconfiança) da Mensagem Inesperada de “Pensei em Você”

Você conhece essa sensação.
Seu telefone acende com uma mensagem de alguém que você não ouve há meses—talvez anos. As palavras parecem calorosas o suficiente:
“Ei! Estava pensando em você. Como estão as coisas?”
Uma parte de você se ilumina. Uau, essa pessoa pensou em mim.
E então, como um relógio, entra em cena outra parte—mais cética, mais experiente. Será que realmente se importam? Ou isso está levando a algum pedido?
Porque sejamos honestos: já estivemos dos dois lados dessa história.
Às vezes, pensamos genuinamente em alguém e queremos saber como está. Outras vezes… bem, essa pessoa nos vem à mente porque precisamos de algo—um contato, um favor, uma resposta rápida para uma pergunta que não ousaríamos fazer sem um pretexto.
E ainda assim, mesmo quando sentimos que há uma intenção por trás da mensagem, uma parte de nós quer acreditar que também existe algo real ali. Que somos lembrados não apenas pelo que podemos oferecer, mas por quem somos.
Essa é a tensão não dita dos relacionamentos profissionais: o equilíbrio entre autenticidade e utilidade. Sabemos que networking é sobre conexões, e conexões envolvem trocas. Mas em que momento uma relação deixa de ser uma conexão e passa a ser uma mera transação?
Talvez o verdadeiro poder de uma mensagem inesperada de "pensei em você" não esteja apenas em enviá-la, mas em como respondemos a ela.
E se, em vez do ceticismo, escolhessemos a curiosidade? E se nos desafiássemos a realmente nos importar—nem que seja só um pouco—com a pessoa por trás do possível pedido?
Ou, no mínimo, e se enviássemos essas mensagens sem uma agenda de vez em quando—para que, quando precisarmos de algo, isso não pareça tão calculado?
Porque, no fundo, não queremos apenas ser lembrados. Queremos ser vistos. E há uma grande diferença entre as duas coisas.
Além do Networking: A Necessidade de Ser Visto
Aprendi a prestar atenção àquele impulso sutil—aquele pensamento inexplicável que nos faz lembrar de alguém: O que será que fulano está fazendo agora? Ou quando algo que vejo ou faço me traz essa pessoa à mente. Em vez de deixar o pensamento passar, tento agir, reconhecendo a energia desse momento.
Mande a mensagem.
Dispare aquele e-mail, WhatsApp, Slack, áudio, mensagem de vídeo—o que for. Deixe a pessoa saber que ela passou pela sua mente. Você nunca sabe o que isso pode significar para ela.
Lembro-me de ter sentido isso em um contexto completamente diferente, na escola. Havia uma garota que sempre me procurava, mandava mensagens, me convidava para sair. Eu gostava da atenção—até perceber o verdadeiro motivo por trás dela.
Ela era extremamente religiosa e sua intenção não era amizade, mas me levar para as atividades da igreja, talvez “salvar minha alma”.
Fiquei um tempo indo junto, tentando ignorar a sensação persistente de que aquilo não era sobre mim, mas sim sobre a missão dela. Seus interesses eram voltados para algo que era muito importante para ela.
Isso me leva a um tema maior: a necessidade profundamente humana de ser visto, ouvido e aceito exatamente como somos.
Se olhássemos mais de perto para nossas ações e decisões diárias, provavelmente perceberíamos que muitas delas estão enraizadas no desejo de aceitação e reconhecimento—mesmo quando a maior parte do que fazemos passa despercebida, sem aplausos ou validação.
Elisabeth Kübler-Ross, Ana Claudia Arantes e David Kessler exploraram essa necessidade avassaladora e sua importância, especialmente diante da mortalidade.
Relatos de pessoas que foram clinicamente mortas e reviveram frequentemente descrevem uma experiência profunda de aceitação absoluta—e, com isso, paz. Sem julgamentos. Sem ressalvas. Apenas aceitas de forma completa e incondicional.
Sawubona: "Eu te vejo"
Esse desejo de ser visto, de ser lembrado, está sempre presente—seja nas interações mais banais do dia a dia ou nos momentos mais profundos em que paramos para refletir sobre nossa existência.
Nós damos significado uns aos outros. Reafirmamos a existência uns dos outros.
Na África do Sul, onde nasceu a psicóloga e autora Susan David, PhD, há uma saudação Zulu que expressa isso lindamente: SAWUBONA
Traduzido literalmente, significa: "Eu te vejo, e ao te ver, eu te trago à existência."
Sawubona valida. Ele diz ao outro que ele não é apenas um obstáculo no nosso caminho, mas sim uma pessoa digna de reconhecimento.
Porque, no fim, são nossos relacionamentos—nossos reconhecimentos mútuos—que nos trazem à existência.